Graça às lutas e ativismo da comunidade negra, atrelado ao advento da internet com as redes sociais que democratizaram a comunicação, pautas sobre artistas pretos têm sido discutidas e visibilizadas na mídia tradicional e digital brasileira, ampliando os espaços para discussões, posicionamentos e reparação.
Nesse contexto, os cantores negros estão conquistando espaços e trabalhando com dedicação em suas carreiras, tornando-se referências e vozes ativas em meio aos obstáculos ainda existentes. Artistas como Iza, Liniker, Lazzo, Margareth Menezes e muitos outros têm mudado realidades e apresentado novas perspectivas para os jovens, por meio das histórias de vida expressadas nas letras, batidas e ritmos de suas composições.
Apesar dos desafios e lugares conquistados, para muitos ainda é difícil ganhar espaço e respeito, especialmente quando se fala em uma indústria predominantemente branca. No caso do homem gay e preto, as chances são menores, pois ainda é preciso, além do preconceito e homofobia, enfrentar também o racismo vivido desde a infância.
Edoux, cantor, compositor, homem preto e gay, é um artista que traz na sua bagagem musical, artística e de vida, toda a carga de preconceitos, racismos e processos de ressignificações, vividos desde criança.
Para o cantor, se reconhecer como homem preto é uma mistura de sentimentos, mas o principal é a resiliência, aspecto de grande influência em sua construção como ser.
“Esse misto e características do ser preto, seja na forma como eu me porto em sociedade, as bandeiras que levanto, até mesmo na criação de minha irmã, por exemplo, uma menina preta que enfrenta diariamente problemas de autoestima e insegurança sobre quem é, faz parte de quem eu sou. Tem negritude em tudo o que eu faço”, ressalta.
Nesse contexto, as canções do compositor retratam as discussões acerca da temática e trazem relatos influenciados pela sua história, como é o caso do seu mais novo single, ‘Afeminada’, lançado no último dia 13, nas principais plataformas digitais. Uma composição repleta de palavras de empoderamento inspiradas em suas vivências, vindas das dificuldades e preconceitos.
“Eu sou um compositor de músicas predominantemente românticas e a minha negritude e tudo que eu sou está ali presente tanto nas canções, quanto no visual. Por isso, se eu falo na minha música que eu amo, é um homem negro gay que está ali assumindo seu amor. Tudo que eu escrevo vem de um lugar de aceitação!”, destaca.
Sendo uma realidade para muitos jovens negros, o cantor fala sobre os desafios que enfrentou por suas características e destaca que a exclusão das oportunidades e a falta de perspectiva de um futuro eram aspectos que o assombravam desde mais novo.
“Isso somado a uma criação onde a cultura preta não era visibilizada ou pautada, muitas vezes demonizada, onde meu cabelo não era bom pra ser visto ou cultivado e gerava desconforto, ou que a família precisava ser limpa com relacionamentos interraciais”, confessa o artista.
O artista revela ainda que nesse processo, o racismo vivido por ele sempre foi visível em diversos espaços, como na escola, nos momentos de brincadeiras, nas divisões dentro da sala de aula e nas falas sobre seu cabelo e sua cor.
Para Edoux, por um longo tempo ser artista foi um sonho que considerava impossível, ou que era necessário anular-se em prol do mínimo e afirma que seu novo trabalho, como a nova canção e videoclipe, tem a proposta de apresentar o jovem disruptivo e empoderado.
“Eu não conseguia ver a possibilidade de fazer sucesso ou até mesmo iniciar uma carreira promissora na música pop no Brasil, sendo um artista preto e gay, com as referências que eu tenho”, conta.
O jovem relata que o movimento feito para identificação pessoal mexeu com a sua forma de se enxergar, e afirma que se apropriar e reconhecer as suas nuances, faz parte de todo esse processo do autoconhecimento.
“Meu cabelo é minha coroa. Minha cor é perfeita, tudo em mim é lindo! E esse processo da identificação endossa isso e me traz autoconfiança. Neste processo, minha relação com a maquiagem, por exemplo, é vinculada à luta pela pluralidade. Por isso, passei a observar a oferta de marcas que englobassem a pele preta em sua cartela de cores para produtos”, acrescenta.
Para o cantor baiano, o impacto de trazer a negritude e aspectos sobre a diversidade para a arte e o seu público é poder criar esse lugar de pertencimento e reconhecimento de discussão e troca de informação. “Antes muitos artistas me influenciaram e encorajaram a expressar minha negritude e tudo que sou. Eles criaram esse espaço através da arte deles, agora é a minha vez!”, complementa.
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Fotos David Campbell