A Independência do Brasil na Bahia completa 200 anos. Integrando o calendário de ações do bicentenário, a peça musical 2 de Julho – A Ópera da Independência será encenada na Concha Acústica do Teatro Castro Alves (TCA), em Salvador.
Com texto de Cleise Mendes e sob a direção de Paulo Dourado, serão duas apresentações nos dias 21 e 22 de julho de 2023, sexta-feira e sábado, às 19 horas. A entrada é franca e os ingressos serão disponibilizados pelo Sympla e pela bilheteria do TCA.
O diretor Paulo Dourado defende a presença do teatro em celebrações populares como o dia da independência baiana – festa que é, ao mesmo tempo, frisa ele, política, histórica e mística – pelo poder de criar no público uma noção de pertencimento nas pessoas. Paulo também salienta a forte presença do Candomblé e da Umbanda nos festejos, por meio das figuras da cabocla e do caboclo.
“O 2 de Julho tem um caráter extremamente singular, que nem sempre é muito percebido e interpretado pela maioria das pessoas. É uma festa que celebra a espiritualidade junto com a política, a memória e a arte. A arte é o fundamento que engloba todos esses aspectos presentes na festa do 2 de Julho, uma história fascinante, complexa e rica, e que é a cara da nossa gente”, argumenta Dourado.
Para Cleise Mendes, autora do livro em que foi baseada a montagem, a luta pela independência do Brasil abrangia a luta dos negros escravizados pela libertação. “O título do texto, ‘2 de Julho – A Carta de Alforria’, já dá uma pista do recorte dado à peça”, antecipa a dramaturga.
Ela frisa que buscou dar destaque não só aos personagens já conhecidos, mas também aos combatentes anônimos. “Foram tropas de gente cansada e faminta, que deram a vida pela nossa independência. Todos lutaram e tiveram parte nessa vitória final”, explica Cleise.
O cantor e compositor Gerônimo Santana, que assina a direção musical da montagem, diz-se orgulhoso do que foi realizado até aqui como mais um esforço para a valorização da Bahia como peça-chave para a passagem do Brasil província para o país Brasil de hoje.
“Trabalhar com Paulo Dourado, Cleise Mendes e Dody Só é como se a gente estivesse escalado um bom time para a Seleção Brasileira”, elogia. Gerônimo adianta que no repertório terá de valsa a afoxé, já que, para ele, os personagens constituem a própria trilha sonora da encenação e da história do 2 de Julho.
O ator e produtor Dody Só estará na pele do personagem Ninguém e pela primeira vez entre o palco e a coxia como realizador. “É a sobrevivência do ator no Brasil. Tem que se virar, senão, como diria Francisco Teixeira [historiador], ele vira bolsa de madame”, brinca.
Amigo, fã e parceiro de Gerônimo desde quando declamava poemas de Gregório de Mattos nas apresentações que aconteciam na Escadaria do Passo, no Pelourinho, Dody exalta também a colaboração com Paulo Dourado. Ao lado de Dourado, criaram “espetáculos gratuitos e grandiosos para um público grande”, como assim define. “Temos o compromisso de mostrar às pessoas que o teatro tem algo de bom para acrescentar. O teatro mexe com a vida das pessoas”, declara.
Apesar da melhora no cenário da cultura, com incentivos do Estado, Dody faz um apelo às grandes empresas e empresários para que considerem patrocínios para o teatro e a arte como um todo. O produtor tem outros projetos prontos para sair do papel, mas, por enquanto, ainda precisa de permissão para divulgá-los. “Aqui, na Bahia, eu preciso primeiro consultar Exu para saber se eu posso revelar”, justifica Dody ao Site Uran.
No elenco, atores de prestígio do teatro baiano darão vida aos heróis da liberdade. A plateia assistirá ao triunfo de pretos, indígenas e mestiços, sob o comando do general Labatut, em poder de resistência às investidas de Portugal, que tentava barrar a Independência do Brasil proclamada por D. Pedro I em 7 de setembro de 1822, um ano antes da epopeia na Bahia.
Como narrador onisciente dos acontecimentos, estará Castro Alves. O poeta será interpretado por Daniel Farias. Maria Felipa será vivida por Bárbara Borgga e Carlos Betão será Dom João e Madeira de Mello. Márcia Andrade, Evelin Buchegger, Diogo Lopes, Lucio Tranchesi, Marcelo Augusto e Marcelo Flores também compõem o elenco.
As cenas épicas terão a trilha sonora original assinada e executada por Gerônimo, que conduzirá sua orquestra ao vivo. Dançarinos coreografados por Jorge Silva também vão imprimir o ritmo do musical.
A ópera já foi apresentada uma única vez em 2013, em um palco montado no Terreiro de Jesus. À época, ela também fez parte da programação de ações de celebração dos então 190 anos da independência da Bahia.
O espetáculo 2 de Julho – A Ópera da Independência é a mais recente obra incorporada ao Projeto Teatros do Tempo, comandado pelo ator e produtor Dody Só. A companhia conta, entre as suas produções, com sucessos de público e crítica como Búzios – A Conspiração dos Alfaiates (1992), Canudos, A Guerra do Sem-Fim (1993), Lídia de Oxum – Uma Ópera Negra (1995) e A Paixão de Cristo (2011).
A montagem é uma iniciativa do Governo da Bahia e da Secretaria de Cultura (Secult-BA) e tem apoio cultural das Voluntárias Sociais da Bahia, Bonfim Têxtil e do Centro Técnico do TCA.
Sinopse
A peça rememora o mais importante evento histórico na formação da nossa identidade cultural. Há 200 anos, o 2 de Julho consolidou, em terras baianas, a independência do Brasil. Após uma longa guerra de um ano e quatro meses, a vitória contra os invasores portugueses, que fogem pelo mar de volta para Portugal, foi alcançada. Em cena, combatentes anônimos – pretos, indígenas e mestiços –, que deram a vida pela libertação do povo brasileiro, além dos reconhecidos Joana Angélica, Maria Quitéria, Maria Felipa, o corneteiro Lopes e o poeta Castro Alves, que será o narrador, embora não tenha participado pessoalmente da batalha.
Serviço
Espetáculo musical 2 de Julho – A Ópera da Independência Data – 21 e 22 de julho (sexta e sábado)
Horário – 19h
Local – Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador Classificação livre
Entrada franca