Crédito: Caíque Silva
O encontro do instrumentista, arranjador e compositor baiano de Itiruçu, Tarcísio Santos, com o cantor, compositor e ator Guigga, artista do sertão da Bahia, nascido e criado em Maracás, resulta em “Mar Sobre Pedras”, álbum que chega hoje (08) às plataformas digitais – ouça aqui. Com onze faixas, a dupla incluiu uma performance inédita de “Letra Fera”, uma poesia de Glauber Rocha, musicada pelo cantor e compositor conterrâneo, Gutemberg Vieira, nunca gravada. O registro inédito ganha versão no disco após a família do cineasta autorizar a gravação. A escolha por incluir a faixa no projeto tem influência na experiência dos artistas baianos em Vitória da Conquista (BA), cidade natal de Glauber Rocha e onde Tarcísio e Guigga se conheceram.
“Mar sobre Pedras” é o resultado de dois anos de experimentação de Tarcísio Santos e Guigga apresentando um repertório de composições autorais inéditas e versões de composições com parceiros como Paulo Monarco, Conrado Pera e André Fernandes. “O disco reúne a atualidade das nossas canções, síntese de uma vida de dedicação ao fazer artístico, num realinhamento de compromissos. Julgamos necessário reafirmar a atualidade das questões que nos assaltam, sem restrições de estilo ou linguagem. Quando converso/toco com Guigga sinto que acreditamos na grandeza da canção brasileira, sinto vontade de honradez”, avalia Tarcísio, que é instrumentista, arranjador e compositor, mestrando em Música pela Universidade Federal da Bahia e formado em Violão pelo Conservatório Municipal de Vitória da Conquista.
Artista do sertão baiano e Mestre em Memória Social pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Guigga acredita que o tempo em que ele e Tarcísio moraram na cidade do sudoeste do estado exerce uma influência direta sobre o seu trabalho e sobre o disco: “vivemos a sorte de conhecer cantadores numa terra em que Elomar é menestrel da erudição e Glauber Rocha o capitão da novidade. O coronelismo, a caretice, o conservadorismo, o racismo caminhando juntos com a vanguarda política, a originalidade cultural e artística, que não é pioneira em nada além da necessidade de uma nova militância sertaneja. Este sertão que há dentro de nós, corpos diversos, pretos, pardos, indígenas, masculinos, femininos, não-bináries, e que tanto nos aproxima, apesar de infelizes distâncias”.
Guigga iniciou sua trajetória na música aos sete anos, como vocalista do bloco afro Filhos do Quilombo, de onde partiu para dividir os vocais da Banda Me Leva ao lado de seu pai, o cantor Tião Silveira. Em 2014, ele lançou o disco Caim com o músico Marcos Marinho e em 2017 lançou o EP Divino e Ateu. Com este trabalho, recebeu o Prêmio Caymmi de Melhor Intérprete. Foi o vencedor do Festival Nacional da Canção nos anos de 2015 e 2021. “Eu vejo Mar Sobre Pedras como um mergulho profundo na obra musical de duas crianças do sertão baiano. Eu e Tarcísio nascemos no Vale do Jiquiriçá, território entre os rios De Contas e Paraguaçu, originalmente pertencente aos indígenas maraká, que anunciam pelo nome a força da música em suas vidas. Mais do que uma voz e um violão, nosso encontro é ancestral, fala muito de quem somos e de como enxergamos o mundo, a despeito do genocídio de nosso povo. Mar sobre Pedras poderia ser somente um álbum de canções criadas por dois cantadores, mas alcança também a nossa meninice nos quintais, o vendaval de emoções que é voar tendo raízes numa terra colonizada”, analisa.
Tarcísio também evoca a imagem da infância no Brasil profundo para explicar o disco: “este é um álbum sobre crianças que não se encontram em vão”. O artista já atuou como músico, diretor e arranjador musical ao lado de nomes nacionais e internacionais como Alaíde Costa, Paula Lima, Antônio Carlos e Jocafi, Ilessi, Sylvia Machete, André Macedo, Armandinho, Paul Andrew, Alejandro Aviles, Christoph Müller, Marcelo Martins, Filipe Moreno, Ana Barroso, Beto Martins, Paulinho Boca de Cantor, Ellen Oléria, Ava Rocha, Nara Couto e Aiace. Em 2020, gravou o seu primeiro álbum de violão solo chamado “Interior”. Venceu o 18º Festival da Rádio Educadora FM como melhor arranjador para música instrumental e o prêmio Qualicult na categoria show solo em 2021.
O projeto tem apoio financeiro da Incubadora Vale do Dendê através do Programa de Incubação de Produtoras de Áudio 2.
FICHA TÉCNICA
Direção Musical | Guigga e Tarcísio Santos
Gravação e Mixagem | Pablo Moreno (Estúdio 12por8)
Masterização | Neto Grous
Direção Criativa | Caique Silva e Vinicius Encarnação
Design de Conteúdo | Filipe Bezerra
Fotografia | Caique Silva
Redes Sociais | Larissa Uerba
Figurino | Vinícius Encarnação
Produção Executiva | André Oliveira
Assessoria de Comunicação | Kirk Moreno e Vitor Andrade (Duo Estratégias em Comunicação)
Realização | Terramar Comunicação e Cultura
Gravado em 2023, em Salvador, Bahia, Brasil.