Agora o quadro está completo. Pouco mais de quatro meses após o lançamento da primeira parte, entra nas plataformas digitais neste dia 13 de março, disponibilizada pela Som Livre, a outra metade de “Se o Meu Peito Fosse o Mundo”, aguardado segundo trabalho solo do cantor, compositor e violonista paulistano Jota.pê. São mais cinco faixas que chegam para se juntar às já lançadas e complementar, musical e poeticamente, toda a viagem, por vezes autobiográfica, narrada em música e letra pelo jovem artista. Com as duas metades juntas, “Se o Meu Peito Fosse o Mundo” se torna, enfim, um álbum – e ganhará edição em LP em futuro próximo. A nova leva de canções traz apenas repertório inédito e composto por Jota.pê – solitariamente (“Quem É Juão”) ou assinado com os parceiros João Cavalcanti (“Caminhos”), Rafa Castro (“O que Será de Nós Dois”), Nina Oliveira (“Banzo”) e José Gil (“Feito a Maré”). José Gil, aliás, comparece também como intérprete em sua faixa e traz com ele João Gil e Fran Gil para um feat entre Jota.pê e os Gilsons. Faixa foco do disco, “Feito a Maré” chega também com videoclipe, disponibilizado no canal oficial do artista no YouTube.
Aqui vale abrir rápidos parênteses para lembrar do que já foi lançado. O “Lado A” de “Se o Meu Peito Fosse o Mundo” tem duas canções escritas por Jota.pê sozinho (“Um, Dois, Três” e “Ouro Marrom”), uma parceria dele com Theodoro Nagô (“Ta Aê”) e novas versões paras a músicas “Naise”, de Nina Oliveira, e “A Ordem Natural das Coisas”, de Emicida. Parênteses fechados. Leia abaixo o faixa-a-faixa do álbum completo escrito por Jota.pê.
Bem, mas antes de seguir com esse texto de apresentação de “Se o Meu Peito Fosse o Mundo”, preciso contar que fui eu mesmo que me convidei para produzir este álbum. Ofereci minha colaboração assim, na cara de pau. Isso porque, desde que vi Jota.pê ao vivo pela primeira vez, entendi que ali tinha algo muito especial já acontecendo, ou à beira de acontecer. Eu queria fazer parte desse momento dele. Vi nele um artista absolutamente conectado com o presente, lidando com os temas dos nossos tempos de uma maneira inteligente e original. E Jota tinha as ferramentas à mão, tanto no que se refere ao som (as composições, o timbre macio dá voz, a maneira refinada de cantar e tocar violão) quanto à imagem (ele tinha cara de artista, com seus movimentos elegantes, o visual estiloso e sempre bem produzido, com chapéus combinando com cada look). O fato é que me ofereci e me aceitaram. Aqui estou, assinando a direção artística e dividindo os créditos de produção de Se Meu Peito Fosse o Mundo com os grandes diretores musicais Felipe Vassão e Rodrigo Lemos. Todos ficamos amigos durante o percurso, selados pelo amor que temos não apenas pela música, mas sobretudo pela música de Jota.pê.
Na prática, todas as minhas primeiras impressões se confirmaram. O processo de gravação do álbum foi intenso e prazeroso. Em agosto do ano passado, a trupe completa – Jota, produtores, músicos e agregados – partiu para o interior de São Paulo, na cidade de Alambari, onde fica a Gargolândia. Ali, no meio do mato, está instalado um excelente estúdio, uma espécie de colônia de férias para os aficionados por microfones, amplificadores, mesas de som e quetais. Naquele cenário, acorda-se bem cedo com a criatividade geral já em movimento. O dia voa sem que a gente perceba, a não ser pelas saídas inevitáveis para as refeições. À noite, todos seguem para seus chalés, ansiosos para o dia seguinte. O time de músicos que viveu conosco essa jornada teve Chibatinha (da banda baiana Attooxxa) na guitarra, Silvanny Sivuca na percussão, Weslei Rodrigo e Fi Maróstica no baixo e Samuel Silva no piano. Parceiros e incentivadores do trabalho de Jota.pê desde o primeiro momento, Kabé Pinheiro e Marcelo Mariano fizeram a bateria e o baixo, respectivamente. Jota.pê tocou todos os violões. E Will Bone cuidou dos metais. As vozes finais foram gravadas no estúdio Dorsal Musik, nas semanas seguintes. A mixagem ficou nas mãos de João Milliet e a masterização foi feita por Felipe Tichauer.
Para além das questões musicais, o material gráfico “Se o Meu Peito Fosse o Mundo” quis imprimir fielmente esses mesmos conceitos. Criada e fotografada por Tais Valença, a capa do álbum teve inspiração no artista plástico afro-americano Barkley L. Hendricks (1945 – 2017), pioneiro em pintar pessoas negras dando ênfase à nobreza e à elegância dos retratados. Outra referência importante foi a capa do LP Alumbramento, de Djavan. Jota.pê quis citar, mesmo que nas entrelinhas, esse artista tão fundamental em sua formação musical. Leia a ficha técnica completa da capa abaixo.
Em conversas que tive com Jota.pê no final desse processo todo, ouvi dele que, organizadas, as canções que reunimos no álbum, com seus arranjos tão bem modelados para cada uma delas, conseguiram narrar exatamente a história que ele tinha na cabeça: experiências pelas quais passou desde a decisão de se entregar integralmente à música, entre os precipícios e montanhas que essa profissão nos faz percorrer; questões pessoais, dele ou de amigos próximos; reflexões afetivas, familiares, identitárias; reflexões sobre a relação entre filhos e pais; e, mesmo musicalmente, os impulsos de busca e entendimento dos sons e sentimentos que remetem à sua ancestralidade. Junto com todas essas coisas, se construiu ali um painel sobre o passar do tempo: o Jota.pê que ele já foi, quem é hoje e até o pedaço de um fotograma do imponderável futuro que ele terá logo ali na frente, quem sabe? Tudo isso apareceu no disco.
Como eu escrevi no começo, “Se o Meu Peito Fosse o Mundo” já é um quadro. Um álbum de dois lados, dez canções e milhões de belezas que nos levam por infinitas paisagens. Jota.pê é mesmo um negócio muito especial – acontecendo e para acontecer, como eu suspeitei no primeiro dia. Fico pensando na sorte que tive em ter assistido ao começo dessa história. Que bom que sou oferecido e me convidei para vivê-la de perto.–