Produtora baiana leva diversidade Brasília na mostra Indomináveis Presenças

Crédito: José de Holanda

Idealizada pela Afrontart – Quilombo Digital de Artes, produtora cultural baiana cuja missão é promover o protagonismo negro, indígena e LGBTQIAPN+ nas artes, com expressiva presença de artistas baianos e baianas, Indomináveis Presenças convida o e a visitante a experimentar o mundo que emerge das margens das artes visuais contemporâneas no Brasil.

Ao explorar o conjunto de 114 obras expostas e curadas por Luana Kayodè e Cintia Guedes, percorre-se um caminho abundante em narrativas estéticas e imaginários sensíveis materializados em gravuras, fotografias, pinturas, performances, esculturas e obras geradas com recursos de inteligência artificial.

E na coletividade desses e dessas 16 artistas, em diferentes estágios de suas carreiras, depara-se com perspectivas dissidentes, que desafiam o olhar colonial e alicerçadas no compromisso em refecundar a vida em direção a uma nova ecologia sobre arte e cultura.

Indomináveis Presenças fica em cartaz no CCBB Brasília até 12 de janeiro de 2025, com entrada franca e conta com patrocínio do Banco do Brasil, por meio da Lei Federal Rouanet e Incentivo à Cultura, do Ministério da Cultura. E em 2025, a mostra segue para as unidades paulista, em fevereiro, carioca, em abril, do Centro Cultural Banco do Brasil.

Para as curadoras, “a exposição vai na direção enquanto método pedagógico e educativo, que, por meio de aspectos simbólicos, representa cura coletiva e reparação histórica de uma comunidade violentada e discriminada pela sociedade”, demarcam. E avaliam: “a ocupação de espaços de relevância, a exemplo do Centro Cultural Banco do Brasil, representa um importante marco de resistência e abertura para as comunidades negras, indígenas e LGBTQIAPN+. Instituição pela qual torcermos chegar com a exposição também em Salvador, tendo em vista a inauguração de uma de suas unidades na capital baiana”.

As Indomináveis Presenças

De Salvador (BA), Bernardo Conceição desafia os limites do que os olhos veem em novas formas de perceber o mundo. Enquanto Bixa Tropical, seu conterrâneo, celebra a liberdade corporal e explora o tropicalismo com sua arte quente de cores intensas. Também soteropolitano, Edgar Azevedo se destaca por capturar emoções e expressividade entre o real e o imaginário.

Investigando modos de existência, a artista multidisciplinar Helen Salomão, que reforça a presença soteropolitana, conecta corpo e alma, identidade e memórias, enquanto aborda espiritualidade e ancestralidade. E, para pautar narrativas de corpos negros, originários e dissidentes, a baiana de Salvador, Mayara Ferrão exibe imagens geradas com inteligência artificial, fotografias, ilustrações e pinturas em uma produção que atravessa questões de ancestralidade, gênero, raça e cultura afro-brasileira.

Em conexão com o interior do estado, Juh Almeida, de Catu (BA), explora afrovisualidades e utiliza sua arte para construir novos imaginários, entendendo-os como ferramentas de transformação social. Também do interior baiano, natural de Itapetinga, Lucas Cordeiro investiga as interseções entre espiritualidade, memórias ancestrais e contemporâneas através da fotografia e da escultura, numa reflexão sobre as dimensões espirituais e culturais.

Vindos de outros territórios: Cosmos Benedito, pessoa transmasculina, autista e deficiente auditivo natural de Corumbá (MS), explora temas como ancestralidade indígena em obras que refletem a descolonização. Para aborda a solidão de corpos negros e questões raciais em contextos LGBTQIAPN+, a carioca Rainha F, do Rio de Janeiro (RJ), explora simbologias matrimoniais para criar novas perspectivas sobre mecanismos de sobrevivência. De São Paulo (SP), Adu Santos pesquisa a chegada das instituições ao Brasil e investiga ausências e presenças na museologia.

Multidisciplinar e que atua entre São Paulo (SP), e São Luís (MA), Panamby explora uma criação poética a partir de práticas corporais e sonoras. A partir de São Roque (SP), Emerson Rocha retrata as experiências e o cotidiano da população negra no Brasil, um dos países mais racistas do mundo, ao abordar homoafetividade periférica. E Gê Viana, de Santa Luzia (MA), pensa a história de seu povo Anapuru e o cotidiano afro-diaspórico indígena para desenvolver novas narrativas que celebrem dignidade e felicidade. 

Entre representantes do Norte, a artista visual e performer Rafa Bqueer, de Belém (PA), atua entre arte-educação, moda, escolas de samba e arte contemporânea onde aborda questões raciais e LGBTQIAPN+. A travesti e pessoa de dois espíritos, como se coloca, Uyra Sodoma, de Santarém (PA), é indígena em diáspora, vivendo em território industrial no meio da floresta amazônica, se transforma na “Árvore que Anda” em suas performances que expandem o olhar sobre as relações entre floresta e cidade. E a também travesti Rafaela Kennedy, de Manaus (AM), que utiliza a fotografia para reescrever histórias apagadas pela colonização e aborda suas raízes indígenas e rompe estereótipos ao naturalizar e valorizar corpos que estão à margem.

Afrontart – Quilombo Digital de Artes, desde 2020, constrói um espaço de referência para artistas e profissionais negras, negros, indígenas e LGBTQIAPN+ por meio da circulação de obras e da formação, gestão e qualificação profissional, com vistas ao fortalecimento dessa comunidade. A empresa foi idealizada e tem como gestoras criativas: Luana Kayodê, oriunda da periferia de Salvador, com 20 anos de atuação em diversas áreas da cultura, radicada em São Paulo há 10 anos; e Raína Biriba, há 15 anos empreendedora e gestora cultural, já idealizou, elaborou e coordenou projetos de grande porte em todas as linguagens artísticas, com destaque para a difusão de cantoras negras e indígenas.