Estilista quilombola costura suas raízes em primeiro desfile solo da marca e apresenta coleção com forte conexão ancestral
Elementos da religiosidade e tons que remetem ao chão de terra da
comunidade estão nas peças feitas de materiais carregados de significado
Uma reverência à cultura quilombola autêntica recontando, na forma de arte, sua própria história, será levada às passarelas do Brasil Eco Fashion Week pelo designer Dih Morais. A coleção “Quilombo Barro Preto” será a estreia da marca num desfile solo. Dih já apresentou suas peças em parceria com outros criadores, inclusive estrangeiros, mas desta vez, no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo, no domingo, 15 de dezembro, 17h, os holofotes se voltam integralmente aos looks desenhados por ele.
Nascido no Quilombo Barro Preto, na cidade de Jequié, na Bahia, Dih Morais promete uma imersão nas raízes de territórios que guardam a ancestralidade brasileira. “A inspiração é o barro preto, o quilombo, o chão de terra, as mulheres que passaram na minha vida. Costurei minha história, desde quando saí de casa para sobreviver e buscar um futuro melhor até os dias atuais, realizando o sonho de viver de minha criação”, relata.
Os tons terrosos das ruas não pavimentadas onde o estilista quilombola Dih Morais cresceu e as mãos das mulheres pretas estão nas peças que foram concebidas onde tudo começou. Dih passou quinze dias respirando o clima de caatinga da sua infância para trazer a coleção ao mundo. “Fiz questão de produzir a coleção em Jequié para que a renda fique na comunidade, valorizando as pessoas que fazem parte da minha história”, afirma Dih Morais.
Os materiais também foram escolhidos com forte significado. São linhas de algodão com tramas, trazendo crochê e artesania, junto às cabaças, fruto originário de África e muito importantes para as religiões de matriz africana. Elas também fazem um elo com as fases anteriores do designer. A palha da costa vai à passarela para representar o orixá Omulu e sua mensagem de cura e transformação.
Outro elemento será o linho, que representa os pretos que quando conquistavam a liberdade buscavam o tecido nobre e calçados como forma de expressar a sua condição de liberto num sistema escravocrata. A trilha sonora, com curadoria do designer, também foi trazida do interior da Bahia para marcar a conexão de territorialidade em todos os campos e aumentar a emoção do público. A composição de Izaque de Souza, com vozes de Adriana Duchat, Nana Sarah Oliveira e Thiago Li, foi gentilmente cedida pelo Coletivo DIMANAS para o evento. Direção do desfile e concepção de maquiagem também levam a assinatura de Dih.
Para os acessórios do desfile, a sensibilidade de Dih Morais levou à parceria com o artista indígena do povo Karipuna Diemisom Sfair que assina pulseiras, colares e brincos. “Não podemos esquecer daqueles que abriram o caminho para nós”, destaca.
Uma presença especial na passarela será a de Pai Rodney. O antropólogo, escritor e babalorixá reforça a conexão com a espiritualidade e a cultura afro-brasileira. O casting será composto por modelos pretos, evidenciando a representatividade e o protagonismo que o designer busca promover na moda. “Estar neste lugar onde disseram que eu não estaria é muito significativo. Quero impactar outros jovens pretos, periféricos e quilombolas, mostrando que podemos contar nossas histórias do nosso jeito”, declara Dih Morais do seu ateliê, num prédio no 21º andar do Largo do Paissandu. Um convite para que todos que entrem em seu universo possam olhar o mundo do alto.
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Serviço:
Data: domingo, 15 de dezembro de 2024, 17h
Local: Centro de Convenções Frei Caneca, São Paulo – Brasil Eco Fashion Week
Coleção: “Quilombo Barro Preto” por Dih Morais
Acessórios: artista indígena do povo Karipuna Diemisom Sfair
Trilha Sonora: composição de Izaque de Souza, com vozes de Adriana Duchat, Nana Sarah Oliveira e Thiago Li, gentilmente cedida pelo Coletivo DIMANAS
Peças exclusivas disponíveis para venda após o desfile.
Fotos Jorge Garcia
