Dark Times: Os conflitos e questionamentos do capitalismo no palco do Teatro Martim Gonçalves

A atualidade do texto “A Santa Joana dos Matadouros”, do dramaturgo alemão Bertolt Brecht, escrita entre 1929 e 1931, período de crise econômica mundial, faz confundir ficção e realidade. Dirigido por Paulo Cunha, o espetáculo “Dark Times” é a primeira versão da obra na Bahia, no Teatro Martim Gonçalves, cumprindo curtíssima temporada até 28 de agosto, com apresentações em todos os dias da semana.

A peça narra a trajetória da missionária Joana Dark, que se dedica à distribuição de sopa e pregação religiosa, acreditando assim solucionar os efeitos da crise nos trabalhadores e desempregados. Jovem líder do grupo dos Boinas Pretas, a personagem, interpretada por Luisa Muricy, se transforma a partir do momento em que passa a perceber o complexo funcionamento do sistema capitalista em que vive.

Na peça, Joana transita pelos matadouros da cidade, onde trabalham e habitam os pobres, e pela Bolsa de Carnes, espaço em que são feitas as negociatas entre os magnatas do ramo. Ambientada na cidade de Chicago, Estados Unidos, no ano de 1929, a peça destaca as contradições do capitalismo.

Santa Joana dos Matadouros permite uma reflexão sobre a estrutura política que nos rege, permite o desnudamento deste sistema, mostra que é ele que corrompe as pessoas“, comenta o diretor Paulo Cunha sobre os motivos que o levaram à escolha do texto para a encenação. “Esta obra traz uma oportunidade de a gente refletir, de pensar na necessidade de efetuar no Brasil as nossas reformas, reforma política, econômica, eleitoral...”, complementa. Segundo Cunha, a peça “Dark Times” é uma recriação da obra a partir de uma dramaturgia cênica que incorpora outras referências do universo brechtiano, como a peça “Ópera dos Três Vinténs”, além de poemas de Brecht como “Precisamos de você”, “Caçado com boa razão”, além do texto “Se os tubarões fossem homens“.

Ao todo, são 32 artistas em cena, entre nomes como Wanderley Meira, Viviane Laert, Luisa Proserpio, Caio Rodrigo, Dado Ferreira e Cristiane Veloso. A peça tem assistência de direção da coreógrafa Marta Saback, parceira de Paulo Cunha há cerca de 20 anos em diversas montagens, além de Otávio José Correia Neto, jovem estudante da Escola de Teatro da UFBA. Direção musical de Luciano Salvador Bahia e iluminação assinada por Eduardo Tudella.

Dark Times - Cia de Teatro da UFBA - dir. Paulo Cunha - Foto Diney Araujo_4450

O cenário, criado por Paulo Cunha em parceria com Erick Saboya, e figurino e maquiagem, assinados por Agamenon de Abreu, exploram cores frias e texturas metálicas, tendendo a uma assepsia pouco comum nas montagens da obra de Bertolt Brecht. “Buscamos não cair no lugar comum dos elementos expressionistas, do sanguinário, animalesco. Isso está tão impregnado na palavra que seria uma redundância muito óbvia ressaltá-lo nos elementos visuais, vindo daí a opção por uma certa assepsia, que a partir do uso de materiais metálicos traz para a cena a qualidade da fria maquinaria do nosso sistema capitalista“, conclui Paulo Cunha.

SERVIÇO:

O QUE: Dark Times (ou A Santa Joana ainda vive nos matadouros)
QUANDO: 19 a 28 de agosto, todos os dias, às 19h
ONDE: Teatro Martim Gonçalves – Escola de Teatro da UFBA – Av. Araújo Pinho, 292, Canela.
QUANTO: Entrada gratuita (retirada do ingresso a partir de 1h antes do espetáculo)
Classificação indicativa: 14 anos

Ficha técnica

Texto: Bertolt Brecht
Direção: Paulo Cunha
Assistência de Direção: Marta Saback e Otávio José
Direção Musical: Luciano Salvador Bahia
Cenografia: Paulo Cunha e Erick Saboya
Figurino e maquiagem: Agamenon de Abreu
Iluminação: Eduardo Tudella
Fotografia: Diney Araújo
Produção: Wanderley Meira
Elenco:
Andréa Rodrigues, Caio Rodrigo, Clara Troccoli, Dado Ferreira, Dimitria Herrera, Douglas Oliveira, Edu Coutinho, Elinaldo Nascimento, Felipe Viguini, Fernando Antônio, Gabys Lima, Helita Soarez, Iana Nascimento, Jeff Correia, Jell Oliveira, Jéssica Andrade, João Victor Soares, Kita Veloso, Lázaro Estevam, Luciana de Lucena, Luisa Muricy, Luisa Proserpio, Marcos Lopes, Mirela Gonzalez, Neto Cajado, Queila Queiroz, Raíssa Xavier, Rodrigo Queiroz, Thiago Almasy, Tiago Querino, Vivianne Laert, Wanderley Meira

Sobre Uran Rodrigues 10198 Artigos
Uran Rodrigues é um influente agitador cultural, promoter e idealizador do famoso baile O Pente (@opente_festa), além do projeto Sinta a Luz (@sinta.a.luz). Com uma carreira dedicada à promoção da diversidade cultural e artística, Uran conecta pessoas por meio de eventos que celebram a arte, a moda e a cultura preta. Seu trabalho busca não apenas entreter, mas também valorizar e dar visibilidade às potências culturais de Salvador e de outros estados do Brasil.
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