Sabedoria, sabor e saúde, ingredientes que fazem a diferença no cardápio do restaurante Paraíso Tropical do chef Beto Pimentel, um baiano que teve sua primeira roça aos sete anos de idade e hoje, aos 81, colhe os frutos de sua intimidade com a terra. Aliás, sobre tempo de vida, o mais badalado chef nascido na Bahia filosofa “O homem tem a idade que sente, não a que aparenta. O importante é você viver com qualidade, com a consciência tranquila de que faz sua contribuição para melhorar o planeta”.
A fama do chef baiano vai além dos domínios do forno e fogão. Sua história em defesa da terra e da sustentabilidade está presente no seu dia a dia, “Nada acentua mais na vida da gente a presença de Deus que a natureza. Todo mundo sabe que gastronomia tem que ser elaborada para os sentidos, mas ela tem que flutuar num delírio chamado sabor. Quando a gastronomia vem permeada pela sustentabilidade ela se torna uma cozinha consciente, criativa, saudável e inteligente. Se você olhar com a atenção para a natureza vai nela encontrar centenas de opções para se alimentar de forma mais saudável”.
O nome do seu restaurante “Paraíso Tropical” teve origem no imenso pomar que mantém no quintal de sua casa no bairro do Cabula, em Salvador. Alí, sob o verde da copa das árvores está um verdadeiro festival de cores e sabores de frutas e legumes. Centenas de espécies, algumas desconhecidas e selvagens, todas plantadas pelo agrônomo Beto Pimentel, formado pela Universidade de Piracicaba, em São Paulo. Uma prova de que a melhor conexão entre a natureza e a cultura está na comida.
Biribiri, araticum, ingá, licuri, cagaita, pupunha, pindoba, sapoti, mangaba, bacuri, estão entre as frutas que brotam das centenas de pés plantados por ele.
Do pomar, saem os ingredientes usados nos coloridos pratos que compõe o cardápio do restaurante, que ostenta o orgulhoso título de ser o único no Brasil premiado pela famosa escola de culinária francesa Le Cordon Bleu. “Aqui é tudo orgânico, natural, feito de forma artesanal, respeitando as características de cada alimento” garante o chef. Até o dendê, indispensável na famosa moqueca, típica da culinária regional da Bahia, sai da plantação particular. “O azeite de dendê quando exposto à altas temperaturas chega a 30% de acidez, um veneno para a saúde. Nessas condições o dendê aumenta a taxa de triglicérides. Para substituir o dendê industrial sem descaracterizar o prato tive que buscar soluções. Eu espremo o fruto do dendezeiro. Não vai nem no fogo. Em minhas receitas não entra água de torneira com cloro, já que posso usar a água de coco. O alimento além de gostoso, tem que nutrir e ser saudável, fresco e natural”, diz Beto enquanto caminha entre as inúmeras árvores no quintal.
O chef sabe o nome de cada espécie que brota no chão fértil de 60 mil metros quadrados.”Este fruto que acabou de cair maduro chama-se Cupuaci. Ele tem um cheiro que lembra a goiaba araça misturada com o cupuaçu”, explica. Dono de uma criatividade surpreendente na elaboração de seus pratos, Beto Pimentel, ao fazer a promoção da sustentabilidade por meio da comida, sabe que a cozinha consciente é uma mistura de magia, alquimia e ciência. O que o estimula ainda mais a fazer uma culinária simples, artesanal e sofisticada.
Pedimos a ele que destacasse algumas de suas criações:
– Grelhado Tropical: “Sem falsa modéstia esse prato é a minha obra prima. São frutos do mar e frutas (caju, goiaba, jaca, manga, coco verde, maçã, pera, kiwi, abacaxi, jambo, araça mirim e banana da terra). Todas grelhadas com o mel da graviola e do caju. Foi o prato que mais demorei para criar e o mais difícil de fazer. É servido em uma pedra de granito”.
– Moqueca do Beto : “É a minha moqueca preferida, por isso foi batizada com o meu nome. É uma combinação de crustáceos que eu adoro: camarão, siri mole e siri catado, com água de coco verde, tangerina, limão, bibi-biri, calda de cacau e mel de graviola”.
Mas, no Paraíso Tropical a atração não se resume à excelência do menu, a presença do chef Beto Pimentel é um prato cheio. Com fôlego de menino, ele circula pelo salão sempre a distribuir simpatia com suas histórias cheias de humor prontas para serem degustadas como uma dose de sabedoria. “Eu sou assim mesmo desde a hora que acordo. Sei o valor e a força que tem a alegria. O mundo poderia ser mais feliz se as pessoas tivessem consciência de que a vida é muito rápida. A raça humana tem que aprender que não vale oferecer a ninguém o cálice amargo da arrogância”.