“Murro, murro, murro, murro, murro, murro na costela do viado” , “E aííí!?” Com certeza você já deve ter ouvido esses bordões e frases sendo cantaroladas ou faladas na rádio, televisão ou ainda pelo seu vizinho que coloca o som no talo para rebolar a raba sem preconceito.
O nome por trás desses jargões é a multi artista Tertuliana, também conhecida como “A Travestis”. Ela lançou no início de 2021 o seu primeiro disco “Respeita as Travestis”, um grito de protesto ao sistema genocida e assassino brasileiro, este que mais mata pessoas trans no mundo.
O álbum chega repleto de sucessos já conhecidos pelo público, com roupagem moderna, em produções inovadoras com o melhor do pagodão baiano, com beats dançantes de eletrônico e sambas reggaes, trazidos pelos brabos Apache Bass, Salvador Hit, WEBER e Faustino Beats, além claro dela mesma que tem conhecimento de produção de áudio, graças aos estudos na Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, onde cursou História da Arte e produziu dois podcasts famosos no mundo trans: Talaricas Queer e Frozen 2000. Por lá, aprendeu a ser DJ e ficou conhecida como Tertu do Vidigal, favela onde morou.
Todas as parcerias de “Respeita as Travestis” são com mulheres nordestinas, marcando diferentes variantes do pagodão baiano: Danny Bond, Daiana Leone e Nêssa.
O disco tem 13 composições, algumas inéditas. “Cagar no Pau“, “Disputa“, “Goza em Cima do Meu Cu“, “Surra de Bunda Nele”, “Desce Viado” e “Bunda de PV“, que faz referência à bunda de Pabllo Vittar, lembrando que A Travestis participou do álbum “111 Deluxe“, da cantora e drag queen, no remix da faixa “Tímida“.
“Disputa” e “Empurra Empurra” foram canções que Tertu emprestou seu talento ao gravar com Swing de Mãe e Kevin Brito respectivamente, mostrando agora um mega clipe da música “Surra de Bunda Nele” com participação das dançarinas Ellen Anjos e Criola.
A música é um típico pagodão e traz a vivência da artista, que como muitas mulheres no Brasil já viveram algum tipo de relacionamento abusivo, chegando em muitos casos a sofrer agressão física do companheiro.
O clipe que sai sábado, dia 20 de março no Canal Mete Som no Youtube, foi gravado na lage da India Bronze no bairro da Saramandaia e no Nordeste de Amaralina em Salvador, tendo ao final, indicação do Disk Denúncia, lembrando da importância de denunciar agressores.
Aproveite para seguir a artista no Instagram @atravestisoficial ouvir o album no Spotify. Enquanto isso confira o papo que batemos com ela para conhecer um pouco da sua trajetória. Se liga!
SITE URAN: Como tudo começou?
TERTULIANA: Eu comecei a trabalhar com música através da literatura de cordel. Na época eu estudava na UERJ confeccionava os livretinhos com um grupo LGBT chamado Xica Manicongo e a gente cantava os poemas, recitava e tirava deles uma forma de renda pra todas. Aí ainda no Rio eu aprendi a tocar como dj na Casa Nem, abrigo para pessoas trans que pagava o aluguel e mantimentos com festas. Com o tempo me especializei como dj e produtora de funk na UERJ mesmo onde era bolsista no Laboratório de Criações Sonoras – CriaS/UERJ. Na época era conhecida como DJ Tertu do Vidigal, favela onde morava e produzi músicas e podcasts de funk além de tocar em boates e no Baile da Califórnia (Vidigal). Depois cheguei em Salvador e comecei a vender brigadeiro quando perdi a vergonha de cantar (eu cantava pra vender os doces) e fui indicada para gravar um pagodão com Apache, um renomado produtor musical do ritmo.
SITE URAN: Quem é Tertuliana?
TERTULIANA: Tertuliana é uma artista sonhadora, nascida no Piauí, criada na Bahia, amante de cultura popular e agitadora cultural. Já publiquei também artigos acadêmicos na época da faculdade, o mais conhecido deles Manifesto Traveco-terrorista e depois passei a ser cordelista e depois compositora e cantora.
SITE URAN: De onde veio o nome A TRAVESTIS?
TERTULIANA: Eu que tive a ideia, pois nas periferias (interior, favelas, áreas suburbanas) assim que nós mulheres trans somos chamadas, ao invés de a travesti falam “a travestis”…
SITE URAN: Qual a inspiração para as suas músicas ?
TERTULIANA: Me inspiro muito em artistas do funk como a Mc Dricka, a Pepita, Mc Carol, Ludmilla, Linn da Quebrada, Anitta e também em artistas internacionais e do pop como Pabllo Vittar, Lady Gaga, Rihanna, Cardi B, Nicki Minaj, Gloria Groove…
SITE URAN: Viver de arte é fácil?
TERTULIANA: Nem um pouco, ainda mais na pandemia sem shows e sem muitos fomentos.
SITE URAN: No Carnaval já subiu no palco do Expresso 2222. Qual a sensação ?
TERTULIANA: Foi maravilhoso, e a maior emoção que senti na verdade foi ver a Pabllo Vittar, de cantar junto com ela, sou vittarlover demais!
SITE URAN: Quais foram as maiores dificuldades de gravar um álbum em plena pandemia ?
TERTULIANA: Esse álbum na verdade reúne músicas gravadas antes da pandemia e durante, mas a dificuldade já sabemos que é ter poucos recursos e evitar ao máximo aglomerações durante esse processo.