Desde que a pandemia fechou os teatros, artistas em cada canto do país têm tentado novas formas de se comunicar com suas plateias. Com 34 anos de trajetória e sem poder se apresentar presencialmente, a Cia Baiana de Patifaria se lançou, em julho de 2020, no universo da transmissão digital de algumas das 8 montagens de seu repertório.
Tudo começou com Fora da Ordem, transmitida online ao vivo, seguida de Siricotico, A Bofetada, Noviças Rebeldes e A Vaca Lelé em versões gravadas.
Chegou a vez do formato digital de CAPITÃES DA AREIA, um clássico da literatura de Jorge Amado, adaptado para o teatro por Roberto Bomtempo, dirigido por Fernanda Paquelet e Lelo Filho.
O espetáculo, montado entre 2002/2003, foi visto por mais de 30.000 espectadores e conta com o maior elenco já formado pela Cia Baiana de Patifaria, reunindo 10 atores e 3 atrizes.
O trapiche descrito por Jorge Amado e lindamente narrado pela cantora Maria Bethânia, tendo trilha sonora original composta pelo músico Bira Reis, é habitado por Pedro Bala (Igor Epifânio), Sem Pernas (Ricardo Fagundes), João Grande (Fabrício Boliveira), Pirulito (Nilson Rocha), Professor (Jarbas Oliver), Boa Vida (Francisco Pithon), Gato (Alan Miranda), Volta Seca (Pisit Mota) e Almiro (originalmente interpretado por Manhã Ortiz e substituída pela atriz Kalassa Lemos, que também vive Dora, o grande amor de Pedro Bala).
O livro, escrito no final da década de 30, é um retrato poético da vida de menores abandonados, mas que tem a liberdade como palavra-chave para guiar suas vidas e a solidariedade como um meio de superar a difícil condição social em que vivem.
A amizade entre esses garotos e a obstinação por sobreviverem apoiando-se uns nos outros é o que melhor o livro nos apresenta. Com boa dose de poesia e o humor de alguns personagens, Jorge Amado nos conta a história de Pedro Bala que viveu a infância juntamente com seu bando nas ruas e no cais de Salvador.
Capitães da Areia é também uma reflexão sobre como, decorridos mais de 80 anos desde que o livro foi incinerado em praça pública por ter sido considerado subversivo, continuamos assistindo a um total desrespeito a todos os estatutos e leis vigentes que asseguram a defesa dos direitos humanos.
Para a narração em off do espetáculo, a Cia convidou uma divina voz da música brasileira e divina intérpretede textos: a cantora Maria Bethânia. A gravação aconteceu no estúdio da gravadora Biscoito Fino, no Rio de Janeiro. E como base para a voz de Bethânia e para as coreografias criadas pelo coreógrafo Zebrinha, um bela trilha sonora original foi criada pelo músico baiano Bira Reis.
O cenário criado por Maurício Pedrosa e o figurino assinado por Miguel Carvalho tiveram como fonte de inspiração as imagens da Bahia feitas pelos dois “estrangeiros” mais baianos que viveram nas vielas e ladeiras de Salvador: a fotografia de Pierre Verger e as telas e esculturas de Carybé.
O design de luz é de Eduardo Tudella e o design gráfico foi criado pela Bamboo Editora.
A dupla de diretores do espetáculo, Fernanda Paquelet e Lelo Filho, reuniu um elenco com experiências diversificadas e selecionado durante ciclos de leitura e um cronograma de ensaios, oficinas de percussão e dança afro.
Junto com o elenco, os diretores fizeram uma intensa pesquisa sobre o período do livro, incluindo visita à Zélia Gattai e os filhos Paloma Amado e João Jorge numa das varandas da famosa Casa do Rio Vermelho, em Salvador, para conhecer mais curiosidades sobre a escrita de nosso amado Jorge.
O espetáculo foi gravado em 2003 no Teatro ISBA em Ondina, ganhando remasterização e sua exibição no próximo sábado, dia 27 às 19h no Zoom. Ingressos pelo SYMPLA.