25 anos de idade e há 12 coexistindo com Kyara Bergamini, o artista Igor Rodrigues apresenta um pouco quem é a editora de uma das principais revista do Simbook.
SITE UR: Já começamos querendo saber: o que é Simbook?
IGOR: O simbook é uma rede social que acontece dentro do facebook, com fãs do jogo The Sims que possuem a sua própria persona. São vários tipos de fakes e personas, há pessoas que vão apenas para viver uma “nova realidade”, construir laços e histórias virtuais, pessoas que criam conteúdo, que são modelos, fotógrafos, cantores… enfim. É um lugar onde você pode ser quem quiser, do jeito que quiser.
SITE UR; Quem é Kyara Bergamini?
IGOR/KYARA: Kyara Bergamini é uma persona que foi criada a partir do jogo The Sims 2, em 2008, como uma válvula de escape. Tudo começou no orkut, num mundo chamado Simkut, onde existiam vários fakes do The Sims como ela. Apesar de serem personas, eram histórias reais, com pessoas reais! Kyara sou eu, eu sou Kyara. Apesar de haver uma separação entre a fantasia e a realidade, eu aprendi e amadureci muita coisa com ela. Atualmente, é a minha musa inspiradora, a mulher que eu pinto nas minhas obras como forma de representar outras mulheres negras.
SITE UR: Kyara é negra, alta, magra, inteligente e cheia de sonhos. Quem é ela dentro desse plano virtual? O que faz de fato?
IGOR/KYARA: Kyara é modelo, editora-chefe da revista Poise e também lançou três fashion books. É a modelo que mais estampou capa de revistas, foi o rosto de diversas campanhas e participou de muitos projetos. Atualmente, não trabalha como modelo, mas apenas como editora da Poise. É uma personalidade de referência para muitas pessoas: mudou o jeito de fazer uma revista de moda, criou um estilo fotográfico próprio que inspirou modelos em ascensão, mas acima de tudo é um símbolo de resistência e a prova de que o lugar de uma mulher preta é no topo!
SITEUR: Quando surgiu a Poise?
IGOR/KYARA: A Poise surgiu em 2008. Não foi uma ideia minha, na verdade, mas de um amigo que eu conheci através da revista. Após lançar a primeira edição, ele me convidou para colaborar e, assim, ela foi construída em conjunto. Eu assumi a chefia da revista em 2010 e a mantenho até hoje sozinho.
SITEUR: 20 publicações da Poise, ciberespaço protagonizado por Kyara há 12 anos. Representação da história de uma nação que foi usurpada por colonizadores cruéis! Importância dessa personagem e da publicação para a comunidade preta- mundo físico ?
IGOR/KYARA: Kyara é um dos personagens mais importantes desse ciberespaço. Uma mulher preta, dona da maior revista de moda, também uma das maiores modelos e referência para diversas pessoas. O grande problema é que é um espaço hegemonicamente branco. Na 20ª edição da POISE, eu escrevi sobre como foi solitário ser a Kyara todos esses anos, pois apesar de ter feito muitas coisas importantes, ela era a única negra. Falei sobre como eu inspirei as pessoas de diversas formas, menos a serem pretas (surgiram muitos fakes ao longo da minha jornada, mas nenhum deles foram negros). É um espaço interessante porque você pode ser quem quiser, então há muitas pessoas negras em “off” (a pessoa por trás do fake) que são negras, mas possuem fakes brancos. Atualmente existem muito mais pretos no Simbook, e a edição foi sobre isso. Sobre dar voz ao nosso povo e mostrar que merecemos todo o destaque! Como eu escrevi na matéria “essa edição foi sobre ela não se sentir mais sozinha”, sobre a partir de agora poder inspirar, também, outras pessoas para que elas não queiram ser somente talentosas, criativas, ousadas, mas também negras.
SITEUR: Recentemente criou uma obra apresentando musas como Elza Soares, Margareth Menezes, Iza, Djamila Ribeiro, Majur, Maju Coutinho, Tia Má e Thelminha. Como foi a escolha dessas figuras? Identificação?
IGOR: Escolher quem eu iria colocar foi bem dificil. Eu admiro muitas mulheres e foi uma pena não poder colocar todas. A escolha foi necessária por conta da dificuldade de criar a obra, porque eu não costumo fazer quadros com muitas pessoas. Pra falar a verdade, esse foi o primeiro! Então foi meio que um teste. Eu escolhi por admiração, pela história, pela contribuição com a comunidade negra, por afeto e por serem mulheres que eu realmente tenho uma proximidade no meu dia a dia, de escutar, de ler, de seguir e de me reconhecer nelas e me identificar com elas.
SITEUR: 20 publicações da Poise , 3 livros . O que mais vem por aí? O que o Igor Rodrigues busca na sua arte?
IGOR: Primeiro de tudo, eu busco dinheiro (risos). É o meu trabalho, foi o que eu escolhi trabalhar, então eu preciso de um retorno financeiro, não só por vontade, mas por necessidade (risos). Eu sou formado em Psicologia pela UEFS, mas a minha paixão sempre foi a arte. Nunca me vi como psicólogo, então resolvi investir no que sempre tive vontade. Eu busco reconhecimento, como qualquer artista, mas principalmente poder contar a minha história. Eu gosto de como as coisas começaram, meio que por acaso, e me transformaram totalmente. Quero poder contar a minha história, poder contar a história de outras pessoas e fazer com que elas se sintam representadas. Eu percebo que na arte, apesar de ser um espaço que supostamente conclama por liberdade ainda é muito embranquecido. Quantos artistas visuais negros reconhecidos existem por aí? Quantos artistas negro estão em galeria? Isso me angustia muito. Não me vejo representado na arte que faz sucesso, não me revejo representado na arte das galerias. Espero poder adentrar esses espaços e fazer a diferença para que sejam diferentes.
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