Coral se junta ao trio Radio Exodus e apresenta o single “Boca”

Foto de Sarah Leal

Sensual, canção mescla elementos do tecnobrega, arrocha e bolero e aborda a autoestima e o desejo na perspectiva de uma mulher travesti.

Antes de se mudar para Belo Horizonte, a cantora Coral já era influenciada musicalmente pelas festas e serestas em Jequié e outros municípios do interior da Bahia, onde o bolero e o arrocha fazem sucesso. Em “Boca”, single lançado em parceria com o trio Radio Exodus, a artista baiana aciona as referências adquiridas em sua terra natal para cantar sobre o empoderamento e autoestima das mulheres  —  tudo isso abusando da sensualidade.

Os instrumentais eletrônicos — marca registrada dos mineiros da Radio Exodus — se juntam aos elementos da música brega para construir uma canção de pop tropical que reverbera o clima solar da estação. O movimento, similar ao que artistas como Pabllo Vittar tem proposto, promove a valorização da pluralidade da cultura brasileira e apresenta uma nova construção a partir de ritmos tão enraizados no país. Para Coral, que assina a composição da música ao lado de Max Teixeira, a mistura de gêneros musicais também significa liberdade: “Mostro que eu posso ir para esse lugar, que posso brincar ali também, passear por outro caminho… Não é porque eu faço canção que eu tenho que ficar ali, engessada, naquele lugar erudito. Posso brincar também, porque isso também faz parte de mim e da minha construção enquanto artista, enquanto pessoa, enquanto brasileira, enquanto latina, enquanto nordestina”.

Na letra, Coral se apropria da construção da sua sensualidade como mulher travesti para dar outro contorno à narrativa: se a cisgeneridade costuma posicionar a sexualidade dessas pessoas como algo desumanizador, a artista propõe retirá-las do olhar objetificador e celebrar a sensualidade saudável, livre e empoderadora  — um direito de todos os corpos.

“Eu acho que, enquanto pessoa travesti, vivo com frequência a hipersexualização, a objetificação do meu corpo e a ideia de receber um afeto que é muito levado para um lugar que se resume ao sexo. Eu reclamo muito porque eu passo por isso todos os dias da minha vida desde que transicionei. Me é permitido o ato sexual, o objeto do prazer, mas não me é permitido o afeto. Na música, eu falo: ‘tanto querer bem para quem não tem é ruim demais. Besteira, quando o sorriso é verdadeiro, todo mundo vem atrás’. Então, eu trago uma perspectiva de que é possível também a gente ter afeto e ter prazer, e ter afeto não só nesse lugar, mas em outros lugares também. E aí eu acho que essa coisa da autoestima, de estar bem consigo mesma, é um ponto de partida para que esses afetos surjam, sabe?”, comenta Coral.

A estética sensual e vibrante do lançamento (que conta com visualizer e fotografia assinados por Sarah Leal, conhecida por trabalhos com Marina Sena e Lamparina) é um prenúncio dos próximos passos da artista, que promete mais lançamentos em 2024. Até os próximos projetos, Coral espera que Boca seja a trilha sonora de momentos marcantes para seus ouvintes: “Eu quero que todo mundo dance, que todo mundo escute, que todo mundo bote nas playlists, que todo mundo se sinta abraçada por essa ideia de festividade, de celebração à vida, à beleza, aos afetos, à sensualidade, ao calor, à latinidade”, finaliza.