Exposição “Orí Tupinambá” do artista José Ignácio apresenta acervo com mais de 20 obras na Caixa Cultural Salvador

Fruto de uma pesquisa pessoal sobre os povos originários deste continente, o artista José Ignácio apresenta a exposição “Orí Tupinambá”, que reúne esculturas em madeira, ferro e pedras do mar. A abertura da exposição será no dia 25/04 (terça-feira), às 19h. A visitação vai até 04/06, de terça a domingo, das 9h às 17h30, na CAIXA Cultural Salvador. A entrada é gratuita.

“Este trabalho dá continuidade ao meu entendimento de que a arte deve ser colocada, sempre que possível, a serviço da cultura; da nossa compreensão a respeito do mundo  material e espiritual que habitamos; da análise de nossa ocupação no planeta e de nossos espaços no ecossistema que nos suporta”, conta o escultor.

José Ignácio por Wesley Pontes

Depois de quatro anos da sua última exposição (“Dentro do Mato, na Borda do Mar”/ 2019), Ignácio apresenta o resultado de um processo criativo dinâmico, orgânico e interativo. A exposição Orí Tupinambá tem curadoria de Ticiana Lamego, arquiteta, pesquisadora de arte e parceira do artista, com quem trabalha há mais de 20 anos. O acervo reúne 26 obras, sendo 11 esculturas e 15 pinturas de acrílica sobre tela. Cada peça e cada quadro representa uma entidade. A ideia é que o público possa construir sentido junto ao artista, através de uma fruição que inicia com um ponto de partida, que é a cabeça, o orí. A partir daí, cada um deve construir a imagem das divindades com as suas próprias referências. “As peças são um conjunto. Um Panteon imaginário. Neste momento elas não podem existir ou fazer sentido individualmente. Elas, como conjunto, representam uma versão imaginária de um agrupamento divino pertencente aos homens e mulheres que ocuparam este continente durante milhares de anos”, explica José Ignácio. 

Sobre Orí Tupinambá: A palavra ORÍ pertence à língua yorubá e expressa de forma metafísica e elegante os significados poéticos da cabeça, de uma cabeça, de cabeças em geral, relativa ao corpo que a suporta e ao contexto com o qual os dois se relacionam. Já o nome TUPINAMBÁ é uma forma de pontuar geograficamente aqueles que aqui estavam no Brasil antes da colonização, os povos originários. “A exposição retrata um mundo que se entende e pensa perdido, um mundo que destruímos. Mas um mundo que, apesar de tudo isso, sobrevive de alguma forma dentro da gente, na base da nossa cultura, na base do que é ser brasileiro, ser baiano, ser latino-americano”, afirma o artista que se debruçou sobre uma pesquisa para tentar entender como dar forma a essas esculturas. José Ignácio compreende seu trabalho como instrumento de construção de pontes entre o presente e o passado. “O conhecimento e engenho da ocupação do nosso continente durante quase dez mil anos por índios de uma etnia profícua, sonhadora e empreendedora não se pode destruir. De ser assim, pode então ser (ao menos) resgatado”, conclui.  

Sobre o artista: Filho de pais cubanos, José Ignacio Suarez Solis chegou ao Rio de Janeiro ainda durante a infância,  instalando-se na Bahia a partir de 1974. Entre 1987 e 1993 estudou nos Estados Unidos, inicialmente  em Nova York e em seguida na costa oeste, onde se graduou Bacharel em Arquitetura pela University  of Oregon. Em Copenhague (1990) teve contato com o desenho e a aquarela, começando a produzir  journals de croquis. Participou da sua primeira exposição ainda no Oregon, em 1992. Seu primeiro  projeto arquitetônico (1991) foi a residência dos pais, na escarpa da Baía de Todos os Santos. Em  1994, o artista instalou-se numa fazenda de café na Chapada Diamantina onde desenvolveu a prática  do desenho e da pintura com maior regularidade.

Frequentador do atelier de Carybé, foi influenciado  pela prática escultórica envolvendo o uso de ferro batido. Como arquiteto, José Ignacio foi gerente de  projetos no setor hoteleiro, realizando diversos trânsitos por toda América Latina – o que lhe permitiu  o aprimoramento de sua pesquisa e uma maior circulação de sua obra, integrando coleções particulares espalhadas pelos lugares em que habitou. Em 2004 fez residência artística em Helsinki,  Finlândia, ressignificando o uso de sua paleta. Reinstalado em Salvador desde de 2018, o artista carrega inquietações intelectuais que o conduzem entre o afeto pela geografia continental e a nostalgia de um destino. Suas investigações sobre o imaginário mitológico das matrizes indígenas se  traduzem poeticamente em divindades pintadas em tela ou esculpidas em madeira, pedra e ferro.  

SERVIÇO:
CAIXA Cultural APRESENTA:Exposição “Orí Tupinambá”, por José Ignácio
Abertura: 25/04 (terça-feira), 19h
Visitação: 26/04 a 04/06, de terça a domingo, das 9h às 17h30
Local: CAIXA Cultural Salvador (Rua Carlos Gomes, 57 – Centro, Salvador)
ENTRADA GRATUITA

–Fotografia Juliana Rabinovitz

Sobre Uran Rodrigues 10202 Artigos
Uran Rodrigues é um influente agitador cultural, promoter e idealizador do famoso baile O Pente (@opente_festa), além do projeto Sinta a Luz (@sinta.a.luz). Com uma carreira dedicada à promoção da diversidade cultural e artística, Uran conecta pessoas por meio de eventos que celebram a arte, a moda e a cultura preta. Seu trabalho busca não apenas entreter, mas também valorizar e dar visibilidade às potências culturais de Salvador e de outros estados do Brasil.