A exposição internacional “Reverberações – refletindo a impressão da memória africana” chega a Salvador, trazendo consigo uma profunda reflexão sobre as interseções culturais entre o Brasil e o continente africano.
A mostra, que acontecerá no Museu da Cultura Afro-Brasileira (MUNCAB), situado no coração do Centro Histórico de Salvador, terá uma abertura para convidados na quinta-feira, 21 de março, coincidindo com o Dia Internacional contra a Discriminação Racial. A partir do dia seguinte, 22 de março, até 21 de junho, o público terá a oportunidade de se imergir nessa jornada cultural, com visitação das 10h às 18h.
Organizada pelo Modern Art Film Archiv de Berlim em colaboração com o Goethe-Institut Salvador-Bahia, o Consulado Geral da Alemanha em Recife e o Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab), a mostra é um testemunho visual da influência dos retornados brasileiros nos países da Nigéria, Benin, Gana e Senegal. A exposição traz, ainda, um espaço de debate e pensamento sobre a presença negra muçulmana e tece importantes ilações com os Malês e a revolta ocorrida na capital baiana em 1835.
A exposição apresenta as obras do artista contemporâneo Mudi Yahaya, um dos principais expoentes da cena artística da Nigéria. Yahaya, utilizando principalmente a fotografia como meio de expressão, traça um retrato vívido das identidades híbridas africanas, explorando os diversos dialetos visuais, moedas e vocabulários presentes nas culturas dos países em questão.
“Reverberações aborda questões históricas e de identidade, destacando o papel da fotografia na discussão sobre a escravidão e as identidades únicas dos abolicionistas e escravizados”, explica Mudi Yahaya. “As fotos específicas examinadas na exposição ilustram as diversas maneiras pelas quais a escravidão afetou as vidas e identidades das pessoas e grupos envolvidos.”
Uma série de rodas de conversa enriquecerá ainda mais a experiência nos primeiros dias do evento. Estes bate-papos contarão com a participação do artista Mudi Yahaya, além de especialistas que dialogam com o tema da exposição. Entre os palestrantes estão as doutoras Livia Vaz e Amanda Medeiros, nos dias 19 e 20 de março, e os doutores Osmundo Pinho e Samuel Vida, nos dias 22 e 23 de março, respectivamente, sempre às 17h.
Cooperação internacional
A diretora executiva do Goethe-Institut Salvador-Bahia, Friederike Möschel, expressou sua satisfação em contribuir para trazer essa exposição financiada pelo Ministério das Relações Exteriores da Alemanha para Salvador, ressaltando a importância dessa cooperação internacional em um tema tão significativo historicamente e culturalmente. “Reverberações é um ótimo exemplo de uma cooperação bem-sucedida entre o Brasil e Alemanha em um tema histórico e culturalmente fascinante.”, comenta Möschel.
Para Johannes Bloos, Cônsul Geral da Alemanha em Recife, a exposição é um testemunho do intercâmbio cultural entre a África Ocidental e o Brasil no período pós-escravidão. “Essas são precisamente as questões centrais para muitas pessoas e muitos países no mundo ainda hoje. E é isso que torna essa exposição tão global e contemporânea”, ressalta Bloos.
A exposição, que conta com a participação dos curadores e artistas baseados em Berlim, Gisela Kayser, Suely Torres e Mireya Palmeira, promete mergulhar nos ecos visuais dos violentos processos de colonização e destacar a influência afro-brasileira de escravizados libertos que retornaram para o continente africano, bem como os efeitos desse retorno nas tradições socioculturais do continente.
Sobre Mudi Yahaya
Mudi Yahaya é um artista visual que foca em explorar identidades africanas híbridas através de diferentes linguagens visuais, moedas e vocabulários. Ele examina como essas identidades se relacionam com questões políticas, filosóficas, históricas, religiosas, de poder, violência, intolerância, gênero e raça, especialmente em um contexto digitalizado de mídia. Seu trabalho também investiga as relações entre imagens e as estratégias de desconstrução pós-colonial e descolonização da identidade africana em ambientes africanos e não africanos. Além disso, ele se interessa por arquivos fotográficos, explorando contra-narrativas e a relação entre esses arquivos e a ideia de nação e identidade nacional. Seus projetos conceituais de arquivo destacam a performatividade e a multimodalidade das fotografias, influenciando a construção semiótica com significado sociocultural.
Sobre o Goethe-Institut:
O Goethe-Institut é um instituto cultural da República Federal da Alemanha, fundado em 1951, que se dedica a fomentar o diálogo entre culturas e é a maior instituição de ensino de alemão no mundo. Com uma rede de 150 unidades em 98 países de todos os continentes, o Goethe-Institut Salvador-Bahia, criado em 1962, promove a aprendizagem da língua alemã, divulga uma imagem abrangente da Alemanha e realiza colaborações locais, nacionais e internacionais na área da cultura, com numerosos parceiros públicos e privados.
Serviço
Exposição “Reverberações – refletindo a impressão da memória africana” de Mudi Yahaya
Datas: de 22 de março até 21 de junho de 2024
Horário: Das 10h às 18h
Local: Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira – MUNCAB (R. das Vassouras, 25 – Centro Histórico, Salvador-BA)
Classificação: Livre
Roda de conversas
Tema: Cultura do cancelamento à luz das questões raciais – 19/03, 17h –
– Mudi Yahaya e Dra. Livia Vaz
Tema: As nuances e consequências da diáspora, migração e escravidão e o que as une – 20/03, 17h – Mudi Yahaya e Prof. Dra. Amanda Medeiros (UFBA)
Tema: A correção política do uso do termo “escravo” – 22/03, 17h – Mudi Yahaya e Prof. Dr. Osmundo Pinho (UFRB)
Tema: A imagem de raízes e pertencimento e por que elas são fundamentais na política de identidade – 23/03., 17h – Mudi Yahaya e Prof. Dr. Samuel Vida (UFBA).
Livia Sant´Ana Vaz, Promotora de justiça do MP-BA. Doutora em Ciências Jurídico-Políticas pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Coautora do livro “A Justiça é uma mulher negra“ (Coleção Juristas Negras) e autora do livro “Cotas Raciais” (Coleção Feminismos Plurais). Nomeada uma das 100 pessoas de descendência africana mais influentes do mundo, na edição Lei & Justiça.
Amanda Medeiros Oliveira é Antropóloga (UFPel), mestre em Estudos Étnicos e Africanos(UFBA) e Doutoranda em Antropologia (UFBA). Tem experiência nos estudos antropológicos sobre gênero, parentesco, sexualidade, colonialidade, migração transnacional e raça. Defendeu em 2021 a dissertação intitulada: “No final, eu falo que sou africana”: uma etnografia multi-situada das trajetórias migratórias de mulheres africanas no Brasil (São Paulo). Faz parte do grupo Gira Coletiva – Coletivo antirracista e anticolonial, do Grupo de Pesquisa Ativista Coletivo Ângela Davis (UFRB), do grupo de pesquisa Ética, Poder e Abjeção (UFBA) e do Grupo de Leitura Lidas e Vidas MAFEL- Mulheres Africanas e Escrita Literária (UFBA).
Osmundo Pinho, é natural de Salvador e antropólogo. Bolsista de Produtividade CNPq 2. Doutor em Ciências Sociais (UNICAMP). Professor no Programação de
Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Recôncavo da Bahia em Cachoeira e do Programa de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos da Universidade Federal da Bahia em Salvador. Foi pesquisador visitante no Africa and African Diaspora Department Studies da Universidade do Texas em Austin (2014) e Richard E. Greenleaf Fellow na Latinoamerican Library da Universidade de Tulane em Nova Orleans (2020). É autor de “Cativeiro: Antinegritude e Ancestralidade” (2021), além de outros livros e artigos. Atualmente faz parte da diretoria da Associação Brasileira de Antropologia como Diretor Regional Nordeste (2023-2024)
Ogan de Xangô do Terreiro do Cobre, advogado, professor da Faculdade de Direito da UFBA, coordenador do Programa Direito e Relações Raciais, mestre em Direito, Estado e Constituição – UnB, doutorando em Direito, Estado e Constituição – UnB. Como pesquisador e consultor jurídico atua nas áreas de Segurança Pública, Racismo e Democracia; Políticas de Ações Afirmativas nas Universidades e no Serviço Público; Combate ao Genocídio Negro; Direito à Liberdade Religiosa; Constitucionalismo Negro. Delegado na III Conferência contra o Racismo, realizada pela ONU, em Durban, África do Sul, 2001. Ex-Conselheiro Federal da OAB/BA; ex-integrante do ConselhoEstadual de Proteção aos Direitos Humanos; ex-coordenador da Rede Nacional de Advogados Negros; atuou como consultor na elaboração do Estatuto da Igualdade Racial – Lei 12.288/2010; coordenou a elaboração do Projeto de Lei que originou o Estatuto Estadual da Igualdade Racial e Combate a Intolerância Religiosa – Lei Estadual – Lei 13.682/2014; Formulador das Diretizes para a elaboração de Estatutos Municipais de Igualdade Racial; Coordena a organização negra AGANJU – Afro Gabinete de Articulação Institucional e Jurídica e integra o Coletivo de Advocacia Negra Esperança Garcia – Luiz Gama.