O homem vitruviano negro: esse é Lucas de Matos na capa de ‘Preto Ozado’ (Selo Principis/ Ciranda Cultural, 2022), livro de poesia que tem circulado pelo Brasil. Depois de fazer lançamentos em sete municípios na Bahia, e dois em Minas Gerais, a obra chega à capital paulista em evento com sessão de autógrafos na Drummond Livraria, no dia 23 de setembro, às 16h.
A expressão que dá título ao livro é um jargão utilizado comumente em Salvador, cidade natal do escritor. “Essa expressão é usada com intencionalidade racista para pessoas pretas em posição de destaque na sociedade, como se elas não coubessem nesse lugar”, explica Lucas, que optou pelo z na grafia da palavra. “Além de ser dito assim na Bahia, também faço alusão ao conceito de pretoguês da escritora Lélia Gonzalez”, ressalta.
E a negritude é um dos temas centrais do livro, cuja abordagem não se restringe apenas às vivências do autor. Com ilustrações de Silvana de Menezes, o material traz poemas sobre natureza, sustentabilidade, amor, equidade, direitos humanos e a importância da leitura, temas que compõem o tecido múltiplo de abordagens, em mais de 45 textos poéticos divididos em três partes: ‘De onde vim’, ‘Onde estou’ e ‘Para Onde Vou’.
Lucas de Matos abre o livro com o poema que o intitula. “Preto Ozado” faz referência às conquistas obtidas pelo povo preto brasileiro por meio da pressão popular, principalmente o acesso ao ensino superior. Mas, como diz a poeta e educadora Dejanira Rainha Santos Melo no prefácio do livro; como mulher negra, o que a toca sobremaneira nesse poema é a validação que o poeta faz aos ensinamentos da intelectual negra baiana Vilma Reis. E logo em seguida, em outro poema, faz homenagem a Carolina Maria de Jesus, deixando entrever que o poeta reconhece a severa e perpétua luta das mulheres negras na nossa sociedade, destacando-a e pedindo licença a essas mulheres com suas vozes fortes para poder dar continuidade às outras tantas grandes lições de respeito à diversidade presentes neste belíssimo livro, conclui.
Movimento poético
E Lucas tem se movimentado em diferentes lugares para plantar a semente de seu trabalho. Além de espaços comuns à literatura, como a Bienal do Livro da Bahia, festas literárias, escolas e bibliotecas, o poeta tem ido a unidades de saúde, hospitais, maternidades, centros religiosos e estações de metrô para falar de Preto Ozado. “A literatura combina com todos os espaços, e gosto de estabelecer contato com a pessoa que me lê”, explica.
A caminhada com o livro também tem sido permeada pelo afeto. Para o autor, um dos momentos mais marcantes foi entregá-lo para D. Mercês, matriarca do Quilombo do Açude em Serra do Cipó – Minas Gerais, e constatar a emoção da quilombola com o presente. Outro destaque foi receber uma homenagem em Salvador, na qual a capa do livro foi pintada em um muro da capital, pelo artista Marcelo Brandão. “Capa de livro de poesia grafitada em Salvador era algo inédito até então”, reitera.
O autor também se movimenta no próprio livro, que tem um efeito de animação chamado flipbook, no qual é simulado um movimento de voo deste novo homem vitruviano. Essa razão também fez com que o livro se popularizasse entre o público infantil. Um vídeo de uma garota de 8 anos, chamada Duda Santhana, recitando ‘Black Power’ (poema do livro) já soma mais de 290 mil visualizações no Instagram.
Espraiando ousadia
Por falar em números, a obra já figurou em 39º lugar na lista dos mais vendidos da Amazon na categoria de Temática em Literatura e Ficção. São mais de 1.300 exemplares circulando nacionalmente, e indo parar em mãos ilustres.
‘Preto Ozado’ já foi mencionado em mais de vinte e cinco bookgrams, e o escritor recebe feedbacks semanais de seus leitores. No Carnaval de Salvador, mais de cem pessoas foram “tatuadas” com o título do livro, em uma ação inédita de divulgação literária. Esta é a segunda vez que o escritor vem à capital paulista para falar de literatura. Em 2022 realizou rodas de conversa sobre a poesia de escritores negros e negras em São Paulo e Ribeirão Preto.
Neste ano, além do lançamento, em sua agenda estão previstos um bate-papo no Quilombo Urbano Negra Visão, e gravações para programas de TV. “São Paulo é uma capital imersa em cultura, e sinto que esse lançamento será muito especial. Estou voltando com o melhor cartão de visitas que um escritor pode ter, e espero vir com novas obras futuramente”, finaliza.
Editora: Principis
Edição: 1, 2022
Autor: Lucas de Matos
Ilustrador: Silvana de Meneses
Páginas: 96
Dimensões: L 15.50 x A 22.60 x E 0.80
ISBN: 9786555528206
Linha Editorial: Principis – Autores contemporâneos
Faixa Etária: + 12 anos