Em mais de cinco séculos de apropriação de Pindorama, resistir é o verbo imperativo usado por povos negros e indígenas e está excessivamente presente no nosso cotidiano. É nesse levante musical, com um grito rasgado, que o Aldeia Coletivo e a produtora musical Aquahertz Beats lançam Ybytu-Emi – O Tempo e o Vento, álbum futurístico composto por corpos quilombos advindos da cena musical “marginal” soteropolitana e baiana, disponível nas plataformas digitais Spotify, Deezer, Amazon e Youtube.
Ybytu-Emi é um desejo de reconstrução do sentimento de brasilidade; reconta uma história que não foi registrada, mas está em nós. Concebido pelos artistas músico-performers Caboclo de Cobre e ISSA – que assinam a direção artística e musical, respectivamente -, o álbum com nove canções exalta evidencia, salvaguarda e difundede forma justa a voz indígena, do negro banto e jeje-nagô, do sertanejo, das rezadeiras, benzedeiras, parteiras, a voz ao encanto.
Esta obra é ponto de convergência entre tradição e contemporaneidade, ancestral e hi-teck, popular e ritualístico, eletrônico e sagrado, sintético e orgânico, ciência-histórico-acadêmica e ciência-histórico-oral. Ybytu-emi é um grito rasgado, um sopro da história brasileira e de muitos espalhados por este chão. “Somos a tentativa de escuta de um coração brasileiro, uma outra narrativa, o entendimento de uma outra forma de vida, somos a construção de novos sonhos. Talvez um teatro épico musicado, uma obra do agora, exaltando os que se foram e fortalecendo os que estão vivos em matéria”, Caboclo de Cobre, que também assina .
Com onze canções inéditas, Ybytu-Emi é um território quilombo formado pelos intérpretes Caboclo de Cobre, ISSA, Donna Liu, Mister DKO, Valente Silva, Mariana Damásio, Sérgio, May Pitanga, Marcelo Santanna, além da participação especial de Vandal de Verdade, Juracy Tavares, MC Tipo A e MC Irck. Cantores que trazem potencialidades distintas e que exaltam de forma justa a memória indígena e afro diaspórica.
A musicalidade em Ybytu-Emi é o ancestral e o contemporâneo, o couro e o digital, musicalidade afroindígena em confluência orgânica. A ritualidade das religiões afro indígenas têm o coro como rítmica de convocação, coro este muito comum a espetáculos teatrais de protesto ou épico e como o projeto é formado por artistas da música, do teatro e da performance adotar a teatralidade e ritualização em coro a obra torna-a mais coletiva.